terça-feira, 22 de julho de 2014

25º dia: Serrão (Aljezur) - Sagres [FIM]

Dia 25 [ÚLTIMO] - Serrão (Aljezur) - Sagres
Total do dia: 50,1 km
Horas a pedalar: 3h 05 min
Total km acumulados: 820,2 km
Total horas a pedalar: 58h 32 min



O último dia não foi dos mais fáceis mas era o último, por isso superaríamos sempre qualquer dificuldade que aparecesse. Como disse o Diogo a certa altura: "Já só faltam 18 km, nem que esses agora fossem sempre a subir, fazi-os." Não foram, e ainda bem. Mas foi verdade. À medida que percorríamos os 50 km que nos separavam de Sagres, sabíamos que era a última contagem decrescente. Já tínhamos feito 600, 700, 800, o que eram mais 10 ou 20? Foi por isso um dia muito hilariante.



Continuámos caminho por entre os montes, sempre antecipando quando é que viria a subida terrível que acreditávamos estar à nossa espera - se aquilo eram só montes, como não?! - e sob o calor ardente que continuou a fazer-se sentir.



O calor ardente e o gesto que devemos ter feito mais vezes durante esta viagem.

A subida terrível nunca chegou porque nós fartámo-nos de subir, sim, mas de forma gradual. Custa, mas não mata.
Ainda assim, tivemos alguma sorte porque a estrada até Sagres tinha muitas árvores de cada lado, o que acabou por nos proteger um pouco do sol algarvio do meio-dia.


Não foram muitas as terras por onde passámos neste último dia, o que acabou por ser o espelho desta zona e do litoral alentejano: quilómetros e quilómetros de estrada onde não se vê casas, só a vegetação seca característica. A exceção foi para Aljezur, o centro da zona litoral sudoeste alentejano/algarvio e que é uma espécie de vila de fronteira, meio alentejana, meio algarvia.


Aljezur

Vila do Bispo foi a outra exceção, a vila onde parámos para almoçar e que fica apenas a 8 km de Sagres. Agora imaginem o almoço de santo que nós não tivemos neste último dia, estando a descansar à sombra, comendo um strogonoff de frango com esparguete (comida a sério, wohuu!), e pensando que só nos faltava pedalar mais meia-horita para acabar a nossa viagem pela costa portuguesa. 
Imaginem também o grito de alegria que lançámos quando, de repente, surgiu costa à nossa frente, onde antes só havia do nosso lado direito:


Uma imagem e um sentimento que espero que se conservem durante largos anos na nossa memória.

Mas ainda antes de vermos o mar já havíamos sentido o vento que ali naquela zona é implacável.



Portanto, após o almoço, o nosso objetivo máximo era chegar o mais rápido possível a Sagres e à fortaleza. O objetivo a seguir era ainda ir gozar um bocadinho de praia ali perto. Saímos de Vila do Bispo moles como é costume a seguir ao almoço, mas determinados porque eram os últimos 10 km.


Sagres finalmente!
Depois da placa aquilo é uma reta até lá acima à fortaleza, que deve ter sido a subida em que pedalámos com mais vigor. Eu ainda fiz a minha dança da vitória em cima do selim, mas infelizmente fui solitária na minha loucura :(
Chegados à fortaleza, foi tempo de admirar a vista, que incluía o Cabo de São Vicente, e tirar as fotos da praxe.




Aqui está a nossa selfie da meta:


E a foto do mapa com o que percorremos nestes 25 dias =) :


Queria só agradecer mais uma vez e do fundo do coração aos meus pais, eterno carro de apoio, que fizeram mais de 600 km num dia para nos trazerem para casa, simplificando enormemente a nossa tarefa de levar a tralha toda para cima.
Não sei bem o que vou fazer à minha vida agora que já se acabaram as 3 horas diárias de pedalanço. Diz que é para descansar e coiso, mas não sei quanto tempo vou aguentar sem voltar a forçar as patas a cumprir qualquer esforço qualquer, seja 10 km em cima do selim para ir buscar a waffle divinal, seja o recomeço dos quilómetros corridos dia sim dia não. Veremos.


Total de dias: 25
Total km acumulados: 820,2 km
Total horas a pedalar: 58h 32 min




S.  


domingo, 20 de julho de 2014

24º dia: Zambujeira do Mar - Serrão (Aljezur)

Dia 24 - Zambujeira do Mar - Serrão (Aljezur)
Total do dia: 31,3 km
Horas a pedalar: 2h 14 min
Total km acumulados: 770,1 km
Total horas a pedalar: 55h 27 min




Hoje foi muito custoso. Partimos ainda no Alentejo mas existe uma coisa que se chama "Serra de Monchique" e que estraga aí um bocado os planos das planícies do Alentejo. Não fomos pelo interior mas acho que ainda apanhámos um bocado da maldita serra porque estes 30 km nada tiveram que ver com os de ontem.
Começámos logo os primeiros 7-8 km a subir, daquelas subidas imperceptíveis mas cujo esforço para pedalar começa a ser maior e a acumular nos músculos já mais do que doridos. Uma pessoa pedala, pedala e parece que nunca mais chega. Depois foi o sol que hoje não esteve encoberto pelas nuvens e portanto foi mais custoso o esforço do exercício do que ontem.
Os marcos à beira da estrada e as placas, tantalizadores, lá começaram a indicar as distâncias para Lagos, Portimão e Sagres. Quase nos ia dando uma coisa quando, quase no final do trajeto do penúltimo dia, vimos marcos que anunciavam que faltavam 72 km para Sagres. Haha, boa piada. (O Google Maps diz que faltam 48, eu confio.) O mais engraçado é que anunciavam que faltavam apenas 57 para Lagos. Numa olhada mais atenta ao mapa de Portugal, constatámos que, realmente, Aljezur fica mais próximo de Lagos do que de Sagres. Sagres está demasiado para sul. Mas é essa a nossa intenção.


A culpa toda de este trajeto ter sido tão difícil foi de Odeceixe, uma vila de casinhas brancas que fica num vale. Vale esse que precisa de ser descido mas, logo depois e tão inevitável, ter que ser subido. Portanto descemos até Odeceixe, passámos a ribeira homónima, e depois toca a subir pela encosta acima, na estrada serpenteante.


O "verdinho" da paisagem alentejana.


Tivemos direito a passar mais uma ponte!


A placa a indicar que havíamos finalmente chegado ao Algarve, mesmo antes da subida serpenteante pela encosta acima como que para avisar "acabou-se a mariquice do Alentejo plano".


Odeceixe, a meio da encosta.


Odeceixe, já no topo da encosta.

O destino do dia hoje era o campismo do Serrão, o parque de campismo mais perto de Aljezur e da ribeira e praia homónimas. Diz que é uma praia lindíssima, eu fartei-me de a gabar nos preparativos, mas a verdade foi que se provou demasiado inacessível para nós. Ficava a 3,5 km do campismo, pela encosta abaixo (nós não esquecemos que, para cá, seria encosta acima), em caminhos de terra batida, cheios de pedra. Nós tentámos, cheios de força de vontade. Isto foi o mais perto da ribeira e praia de Aljezur que conseguimos ir:



Há sacrifícios e sacrifícios. Pedalar mais 7 km para ir a uma praia, mesmo com subidas custosas para cá, tudo bem. Estar 3 km e meio sempre à beira de me estatelar no chão e esfolar toda não é um que esteja disposta a fazer. Nem pela praia mais bonita deste país, lamento (não estava garantido que fosse).
Assim, rumámos de volta à piscina do campismo e lá ficámos a vegetar o resto da tarde. Hoje chegámos a um parque de campismo e montámos a tenda pela última vez nesta viagem (gulp...) e amanhã será o último dia a pedalar. Uma parte de nós está mesmo muito aliviada - já não aguentamos vestir sempre o mesmo par de calções e a mesma t-shirt para ir jantar e os corpos estão a precisar de descanso sério - e a outra parte de nós já esboça é o plano da próxima. Sheffield e o que vou fazer a partir de setembro já me ocupa a cabeça em larga medida e estou ansiosa para começar a preparar o meu pré-estudo em agosto e a logística para voltarmos a Inglaterra. Estou também em pulgas para voltar a correr, depois de uma semaninha bem merecida de descanso.
Mas antes disto tudo ainda há os 48 km que nos separam da meta, e que ninguém os vai fazer por nós. Vamos portanto acordar pela fresquinha e tentar fazê-los antes das 15h de amanhã, com paragem pelo meio para almoço.




S.



sábado, 19 de julho de 2014

23º dia: Vila Nova de Milfontes - Zambujeira do Mar

Dia 23 - V.N. Milfontes - Zambujeira do Mar
Total do dia: 30,2 km
Horas a pedalar: 2h 04 min
Total km acumulados: 738,8 km
Total horas a pedalar: 53h 13 min



Restavam-nos três dias para pedalar e cerca de 100 km para fazer mas as nossas contas foram mais difíceis do que prtir a coisa em 30 e poucos km por dia. Isto porque de Milfontes a Aljezur existem uns 4 campismos (em cerca de 45 km) mas de Aljezur a Sagres não existe nenhum (cerca de 50 km). Ou seja, o nosso último dia teria sempre que ser o mais pedalado dos três. A única dúvida então seria como dividiríamos o antepenúltimo e o penúltimo.

A nossa ideia original era ir de Milfontes a Odeceixe (40 km) ou, na loucura, até Aljezur (56 km) e depois ficar aí duas noites antes de partir para a meta. Isto porque hoje estava previsto a temperatura descer bastante e até chover, antes de ficar bom novamente amanhã e dias seguintes. Já que não estaria bom para praia, que se aproveitasse o fresquinho para pedalar.

E isto foi verdade de manhã. Saímos de Milfontes com tempo nublado e ameaça de chuva, algum vento à mistura e esta vista da ponte sobre o Mira:




Estão-se a acabar as pontes nesta viagem...

Estava vento e o tempo estava bem fresco por isso pensámos que talvez desse para ir direto a Aljezur. Mas isso significaria ir pela N120, que fica um bocado afastada da costa, e perder umas das melhores praias da Costa Vicentina: Zambujeira e Odeceixe.

O nosso caminho foi tranquilo, quase sempre pela N393 e N120 sem ver casas nem povoações, só erva alentejana, uma ou outra árvore de vez em quando e vários carros. A certa altura o Diogo teve a brilhante ideia de meter música no telemóvel para animar a monotonia da estrada e paisagem sempre iguais. Não sei como não nos lembrámos disto há mais tempo, há poucas ocasiões tão espetaculares para ouvir o "One for the Road" do que em plena bike trip, de cabelo ao vento, aos saltos no selim e poder cantá-la em plenos pulmões sem ninguém nos julgar. Talvez os condutores que vinham de frente o fizessem, mas quero lá saber. Foi muito divertido.
Divertido é também ver que agora o destino final da estrada nacional por onde andamos é este:
Lagos. Lagos! Já estamos quase no Algarve, nós, que há uma semana estávamos em Lisboa e há duas no Norte! E foram as nossas patas que nos trouxeram aqui. Ainda estou a digerir a coisa.
Em menos de nada, foi altura de cortar para a Zambujeira do Mar.




O Cabo Sardão, esse, passou-nos ao lado. Não queremos saber de cabos nesta viagem pela costa. Preferimos as praias e vilas à beira-mar.
Fomos almoçar à Zambujeira ainda sem saber qual seria o destino do dia. Mas assim que o sol começou a despontar e as nuvens a ir embora, decidimos aproveitar a belíssima praia da vila (melhor praia urbana, prémio das 7 Maravilhas!) e acabámos por acampar no campismo da Zambujeira.



Há toda uma arriba enorme para descer - e depois subir, claro está - que nos dá alguns calafrios quando a vemos. Provavelmente a pior tortura inocente para nós nesta altura é subir escadas. Os músculos mesmo por cima dos joelhos até gritam, é mesmo penoso. Mas bom, o que uma pessoa não faz por umas horinhas ao sol e banhos nestes mares lindíssimos. Algumas das conquistas mais sublimes desta vida envolvem dor física, já dizia o outro.
Portanto, temos mais dois dias para pedalar. Amanhã será obrigatoriamente Aljezur e depois Sagres, com meta ou no Cabo de São Vicente ou na Fortaleza de Sagres, ainda não decidimos. Nenhum deles é o ponto mais a sul de Portugal (esse fica em Faro, bandido), mas qualquer um deles tem um cunho simbólico grande. A costa algarvia terá que ficar para outra vez.



S.


sexta-feira, 18 de julho de 2014

22º dia: Vila Nova de Milfontes (descanso)

Em virtude de termos pedalado mais no 20º dia do que o que estava previsto, ficámos dois dias inteiros em Milfontes. Há um equilíbrio díficil entre pedalar muito e o descanso, entre passar num sítio novo (ou vários) cada dia ou ficar no mesmo durante dois. Se por um lado ambicionamos um intervalo entre pedalanços e um sítio onde deixar a tenda montada por mais do que uma noite, é fácil começarmos a bater o pé de mansinho e a verificar quantos quilómetros nos espera a próxima fase e onde estaremos no dia seguinte. Cada dia desta viagem é intenso porque nenhum é igual ao anterior, o campismo é diferente, a praia também, os vizinhos nas tendas são outros, a vila é diferente, os restaurantes não são os mesmos. E isso é uma das coisas que faz esta viagem tão especial. Ficar no mesmo sítio mais do que uma noite implica que se comece a instalar uma rotina que começa a afetar a novidade.
 
Ainda assim, escolhemos muito bem os sítios onde ficámos mais do que uma noite e todos os três - Estoril, Setúbal/Tróia, Milfontes - são daqueles sítios onde nos imaginamos a ter uma casa de férias ou, pelo menos, a regressar no futuro para mais do que duas noites.
 
O problema dos descansos mais prolongados é também que as pernas começam a pensar que o esforço acabou e portanto dão-se ao luxo de relaxar. Quando voltamos, é um martírio. Os primeiros 5-10 km é só queixinhas de músculos vários. Há uma altura em que se voltam a conformar e calam-se, resignados. Mas o esforço acumulado, mesmo com dias de descanso pelo meio, já se nota demasiado em coisas como joelhos, a velha anca (minha) e nos músculos no topo do joelho. Nos últimos dias a pedalar até os pulsos e as mãos me começaram a doer, pela dificuldade que tenho em arranjar uma posição para as meter no volante que seja confortável, durante as cerca de 4 horas diárias de pedalanço que fizémos ultimamente.
 
Hoje foi dia de dizer adeus ao campismo e pernoitar na guesthouse que havíamos reservado em fevereiro. A nossa ideia para esta viagem foi planear 2 noites campismo / 1 hotel para que tivéssemos descanso suficiente sem desequilibrar o orçamento. E em boa hora deixámos o campismo porque entre vizinhos que mantêm conversas e risota grande da uma às três da manhã e espanholas que recitam a Bíblia às 8 da manhã, não tivemos grande descanso ontem. Hoje já há uma cama e amanhã espero que acordemos frescos para pedalar até à Zambujeira do Mar, no que será o primeiro dia dos últimos.




S.  

quinta-feira, 17 de julho de 2014

21º dia: Vila Nova de Milfontes (descanso)

Hoje fomos então à vila de Milfontes, um sítio turístico mas cheio de cafés, restaurantes e lojas que mantêm o caráter, sem armarem ao pingarelho. Pareceu-nos uma vila dinâmica e com boa qualidade de vida, estamos a gostar bastante.
E depois tem a praia, que valha-me deus:


Em termos de paisagem, nenhuma praia até aqui bate esta. Tem a foz do rio Mira na qual o rio se alarga pela extensão que se vê na foto, juntando-se ao mar mais à frente, e com duas margens bem distantes. Há vários bancos de areia pelo meio, a água é tão limpa e translúcida que apetece mesmo, mesmo nadar, não fosse a temperatura que incapacita os braços assim que os mergulhamos na água. A parte de cá é também um pouquinho ventosa, o que não abona em favor da água gelada.
Após o almoço ainda voltámos ao parque de campismo para uma tarefa que muito nos desagrada nesta viagem:


Lavar roupa à mão.
As casas de banho dos nossos quartos de hotel são locais assustadores porque é roupa molhada pendurada em tudo o que se assemelha a um gancho ou varão. Isto até termos percebido que a roupa seca melhor e mais rápido em estendais improvisados ao ar livre do que em divisões húmidas e fechadas como uma casa-de-banho.
Enfim, uma pessoa aprende vivendo.
Daí que hoje fomos de propósito ao campismo a seguir ao almoço para lavar e estendar a roupa suja acumulada. É também muito mais fácil esfregar a roupa num tanque próprio do que lavá-la num lavatório qualquer. Mais uma vez, aprende-se vivendo.
À tarde fomos à praia novamente, desta vez de bicicleta. Foi a primeira vez que andámos nas riquinhas sem a bagagem toda atrás, e foi uma impressão muito grande. Tanto que me ia desequilibrando quando montei nela a primeira vez: demasiado leve!
Voltámos ao campismo para o duche, e lavadinhos lá partimos para o jantar. Agora estamos na sala de jogos do campismo porque é o único sítio com tomadas e um sofá enorme (perto uma coisa da outra, maravilha) e daqui a pouco vamos dormir.
E pronto, é isto a nossa vida de cicloturista em intervalo.




S.

20º dia: Lagoa de Melides - Vila Nova de Milfontes

Dia 20 - Lagoa de Melides - V.N. Milfontes
Total do dia: 63,3 km
Horas a pedalar: 4h 10 min
Total km acumulados: 708,6
Total horas a pedalar: 51h 09 min



O sol começou a bater quente na tenda ainda não eram 7 da manhã. Calhou bem porque nós queríamos fazer um dia no mesmo molde que o anterior: pedalar cerca de 45 km de manhã, almoçar e praia. O bónus do dia 20 é que teria mais 20 km para serem pedalados ao fim da tarde, depois da praia. Queríamos chegar um dia mais cedo a Milfontes para passarmos dois dias no campismo e poupar um "monta tenda, desmonta tenda". A questão era se aguentaríamos mais de 60 km a pedalar num dia tórrido como o que se fez sentir.

Começámos por ir da Lagoa de Melides até Porto Covo. Aí nos primeiros 4 km pensei seriamente que não íamos conseguir fazer mais 40 porque que porcaria de calor era aquele que nem deixava respirar?! As pernas também não queriam obedecer. Os braços reluziam no misto de suor e protetor solar.



Mas houve uma altura em que cortámos para uma estrada de condições magníficas, provavelmente a melhor em que já andámos e que até tinha uma placa que dizia "Estradas da Planície" e os 45 km passaram a parecer toleráveis. A estrada era o IP8, que nos levaria até Sines, estrada de duas faixas de cada lado, uma berma larguíssima em que deu para irmos lado a lado, e plana como indicava a placa ao início.



Assim dá gosto.

A paisagem pouco mudou:



Quilómetros e quilómetros disto. E por falar em quilómetros, de manhã fizémos exatamente 42 seguidos, o número mágico da maratona. É raro fazermos tantos seguidos, penso que só o fizémos mais uma ou duas vezes, e por isso mesmo nunca me falha notar que há pessoas que correm isto. E começo a pensar onde estava quando começámos nesse dia, tudo o que vimos, os esforços que fizémos, tudo o que passámos, a água que bebemos e onde fomos ter e concluo sempre que 42 km a correr é uma coisa espetacular. E apesar de saber que o esforço de correr 42 km não tem nada que ver com pedalá-los, fico muito contente em fazer 42 km seguidos para o meu cérebro se habituar a esta distância, para saber de antemão a lonjura que é, o que custa comê-los à estrada, para que, no dia em que começar o treino para eles, a mente já esteja aberta para tal. Nas corridas de longa-distância, o pior inimigo é a mente e os pensamentos negros que começam a invadi-la e que tornam o esforço físico - em si próprio aguentável com o treino apropriado - sem propósito e por vezes mesmo insuportável. Mas bom, fica o apontamento para quando recomeçar os treinos de corrida.

Voltando à viagem de hoje, pouco antes de se sair do IP8 e cortar para Porto Covo, começa-se a ver o complexo do porto de Sines e os depósitos gigantes de petróleo e gás natural, oleodutos, gasodutos e refinarias que o compõem.


É uma vista imponente.

Não chegamos a ir a Sines porque a estrada para Porto Covo, junto às sucessivas praias que formam a costa da zona, começa pouco antes. Assim que entrámos nela vimos a placa que indicava que chegávamos ao Parque Natural do Sudoeste Alentejo e Costa Vicentina:


A primeira praia dessa costa, S. Torpes, a mais pertinho de Sines, consta que tem uma zona encostada ao molhe onde a água é mais quente do que o normal à conta de uma refinaria que por ali existe e que usa a água do mar para arrefecer as máquinas. Nós não testámos mas vimos as pessoas todas a tomar banho encostadinhas ao molhe, numa praia que tem uma extensão considerável, logo, parece suspeito.

Depois de S. Torpes é uma sucessão de praias lindíssimas, de água límpida de um azul caribense, que custa a crer.




Mas nós tínhamos que ir acertar contas com os estômagos protestantes, a praia teve que esperar.


Depois do almoço tardio na bonita vila de Porto Covo, rumámos a uma das praias pelas quais tínhamos passado anteriormente. O problema foi escolher. Rejeitámos a Praia Grande porque era a mais conhecida e no meio de tanta baía meio deserta por onde escolher, era um desperdício irmos para a mais turística e acessível.
Escolhemos portanto uma das praias em que se tinha que descer falésias para lá chegar.



Eu queria dizer que valeu a pena mas quando chegámos lá abaixo o mar já tinha enchido bastante e a paisagem idílica do mar azul-clarinho e límpido com as rochas pelo meio estava irreconhecível. Parecia só uma praia com rochas.
Mas bom, valeu a pena porque a seguir ao almoço só nos apetece é dormir, de forma que uma toalha na areia calha mesmo bem. E um mar fresquinho onde ir banhar de vez em quando, para aguentar o calor, também.
Na hora de voltar, enquanto subíamos as escadas até ao cimo da falésia, exclamávamos sonhadores em como era tão bom que alguém nos tivesse roubado as bicicletas, o que nos obrigaria a passar o resto da viagem ali em Porto Covo. Chegados ao topo vimos logo as duas ricas tal como as deixámos - nem uma tenda roubada, nada! As coisas já não são o que eram. (Estou a gozar, como é óbvio, até porque as bicicletas não são nossas, a felicidade não ia ser nenhuma.)


E lá fomos nós pedalar mais 20 km até Milfontes.



O caminho continuou tranquilo, bastante fácil (quase sempre na mesma estrada) e bem sinalizado onde era para cortar. Já estávamos cansados mas não rebentados, como em certos dias na zona Oeste.



Umas terras com nomes bizarros.


As cegonhas que continuam por aí.

Mal chegámos a Milfontes encontrámos logo direções para o parque de campismo, pelo que da vila e praia ainda nada vimos. Tendo em conta que aqui vamos ficar dois dias, não há pressa.




S.